No Brasil, milhares de pessoas utilizam a ayahuasca regularmente. Portanto, é fundamental que elas tenham acesso a informações com um embasamento científico mais apurado. Então, primeiramente, vamos aos dados essenciais: pelo menos cinco estudos compararam a performance cognitiva de usuários de longa data de ayahuasca com um grupo controle de indivíduos que nunca haviam consumido a bebida. Ao todo, mais de 200 usuários de ayahuasca foram avaliados — muitos deles com um mínimo de 15 anos de uso regular da bebida — por meio de testes de memória, atenção e funções executivas, como planejamento e resolução de problemas.
Os resultados desses estudos demonstraram que não houve comprometimento cognitivo no grupo de usuários de ayahuasca. Pelo contrário, em quatro dos cinco estudos, os indivíduos que faziam uso da bebida apresentaram uma performance melhor em diversos testes realizados e essas diferenças foram mantidas na avaliação feita um ano depois.
Além desses estudos, uma série de outros trabalhos avaliou diferentes aspectos da cognição em usuários de ayahuasca experientes, usuários ocasionais e pessoas sem experiência prévia com a bebida. Um levantamento realizado pela biomédica Joice Cruz Jatobá na Universidade Federal de Uberlândia identificou 16 estudos publicados entre 2013 e 2021.
Após analisar detalhadamente cada um desses trabalhos, a conclusão da revisão indica efeitos benéficos potenciais da ayahuasca sobre a flexibilidade cognitiva. Esse termo refere-se à habilidade do indivíduo em alternar estratégias cognitivas e comportamentais em resposta às demandas do ambiente, ou, de forma mais informal, "se adaptar" às situações conforme necessário.
camundongos. As conclusões dessas pesquisas indicam que, do ponto de vista toxicológico, a ayahuasca é considerada segura nas doses normalmente utilizadas em rituais.Portanto, respondendo — de forma mais apropriada — à pergunta da paciente: "O chá de ayahuasca pode estar deixando meu cérebro ineficiente?" A resposta é: "Não, não há evidências de que isso seja provável".
Fonte: Doutor em saúde mental pela Unicamp e pesquisador pós-doutorado no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)*
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